PARAIBA VOX

- Onde a Paraíba esta sempre em primeiro lugar -

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

UMA CERTA MAFIA NÃO GOSTA DE CHAPA ESQUENTADA


O Brasil de 2009 me recorda em muitos aspectos a Itália que conheci nos idos anos 80 do século passado, sobretudo a zona Sul com casas envelhecidas e desocupados pelas portas e praças e em certas localidades ruas desertas, que viviam debaixo de um manto de terror com as viúvas negras da Máfia em quase todas as famílias. Falta-me hoje o bom queijo, e o bom vinho, e as viúvas negras espreitando por entre as cortinas das janelas e as frestas das portas ou sentadas á porta das casas envelhecidas pelo tempo e pelo tracejado das balas, mas temos outros bons acepipes, e a cachaça do nordeste não é nada de se mandar fora.
No entanto não me faltam motivos para comparações a nível de belezas naturais, mas também de descarados ilícitos que vivem sem preconceito um pouco por todo o lado, sendo uns mais avultados que outros, mas que partem de uma base comum do chamado salve-se quem puder...
Obviamente que a Itália dos anos 80 do século passado e o Brasil de 2009, têm diferenças culturais, de métodos e de formas de estar, mas no essencial consegue imitar na perfeição o que de pior por lá encontrei nesses saudosos anos de juventude e de descoberta e conhecimento da Europa, com uma mochila nas costas e alguns dinheiros no bolso, para além de uma capacidade inesgotável de pesquisar o conhecimento de novas realidades fora da fronteira lusa.
Os processos de corrupção e agiotagem política sucedem-se um pouco por todo o lado, e nos Estados da Federação Brasileira, mais pequenos em área e em importância estratégica, nomeadamente política ou econômica, como é o caso particular da Paraíba, não se consegue medir o nível real de envolvimento entre autoridades e os verdadeiros mandantes do crime. Uns e outros se confundem de um modo que compromete a boa imagem que o Estado deveria mostrar.
O mais recente caso da FUNASA (Fundação Nacional da Saúde), com avultado desvio de verbas, destinadas a saneamento básico, construção de habitação social, entre outros destinos, é por si só um dos mais gritantes exemplos de que o crime não mede meios nem fins para atingir os seus mais primários objetivos de sacar verbas de onde e como for possível.
Ao comprovar-se o desvio de mais de 200 milhões de reais, em que 144 Prefeituras, e que os responsáveis dessas Prefeituras, Indústriais da Construção Civil, Contadores e obviamente responsáveis da própria Funasa estão diretamente envolvidos, fica a noção real de que as licitações com a criação de empresas fantasma e sonegação fiscal são uma das armas mais utilizadas.
A investigação apanhou para já a chamada arraia miúda, uns cerca de quatro dezenas de artistas especializados nas matérias de sacar sem olhar a quem, os típicos laranjas e pouco mais, mas isso não serve para que se tenha uma noção de impunidade dos responsáveis máximos, os chamados mandantes, uma vez que ninguém acredita que fraudes deste tipo possam ter ocorrido sem o mínimo conhecimento de responsáveis superiores, sejam Prefeitos ou responsáveis pelo menos de nível médio da Funasa.
Quando a população continuamente se queixa de falta de condições nos seus Postos de Saúde e Hospitais, com limitações na qualidade do atendimento, falta de equipamentos e medicamentos, e por outro lado o Governo, pela voz do ilustre Ministro Temporão (para mim umas das melhores figuras do governo em termos técnicos e de gestão) afirma que os meios estão a ser enviados de acordo com os vínculos estabelecidos, e a tempo e horas, muitos de nós nos questionamos onde será que esses meios ficaram encalhados, no caminho que vai de Brasília, passa pelo Governo do Estado e termina nas mãos dos responsáveis das Entidades do Setor e das Prefeituras.
Existe um manifesto ramal de saída das verbas, a meio caminho, que faz com que muitos recursos saídos de Brasília nunca cheguem aos seus legítimos destinatários no final da linha.
Muitas vezes escuto dizer-se que se os desvios nascem precisamente nas mãos dos mais altos cargos da governacão, e como exemplos surgem entre outros o famoso Mensalão. Isso nunca jamais em tempo algum... deveria servir de desculpa para que o combate ao crime não ocorra, só porque algum governante sentado nas mais altas cadeiras da magistratura nacional se utiliza do seus cargo e poder para acoitar amigos e para se servir a si próprio, seja de modo financeiro ou político.
Os bons exemplos devem vir de cima, diz-se... mas o combate aos maus também deve iniciar-se lá por cima da pirâmide, e sem limites na aplicação da lei, da justiça e da ordem.
Na Itália que conheci nos anos 80 do século passado, a Máfia movimentava-se descaradamente no primeiro patamar da governacão, nomeadamente num celebre primeiro ministro socialista, e também lá como cá a religião estava misturada com a política numa salada de paladares muito duvidosos que conduziram a inúmeros escândalos com: Opus Dei, Lojas Maçônicas, Banco Ambrosiano, e políticos que foram apanhados nas malhas da corrupção.
Aqui no Brasil a Policia Federal em boa hora funciona no combate sem tréguas á corrupção, não medindo meios para levar a bom porto o seu combate. De salientar que a nova geração de magistrados também não tem medido esforços para apoiar esse combate, e daí nascer uma nova realidade que vai incomodando alguns que estavam habituados á impunidade total servida em doses generosas quando acompanhada com a designação de cargos ou poder em varias esferas.
Obviamente que quando o combate real existe, logo surgem vozes que ao sentirem-se ameaçadas se defendem contra-atacando contra o Tribunal de Contas da União, que tudo vigia; contra as próprias autoridades independentes do tipo Policia Federal, que vasculham sem limites; e o Supremo Tribunal que aplica a lei cegamente como deve ser, sem olhar a quem esta sentado á sua frente, entre outras entidades que se movimentam no combate por um Brasil diferente.
Esse contra-ataque de que aqui falo, e que pode ser observado a cada dia que passa, nomeadamente em acaloradas intervenções publicas de altas personalidades, feitas, sobretudo após almoços mais regados com 51, é um muito mau sinal, e um prenuncio de que a investigação chegou tão próxima de certas personalidades que a chapa esquentou... esquentou de tal forma que já lhes esta a queimar na pele.
Sabemos bem que a Máfia é uma organização imortal, e tal como em Itália ou mesmo nos EUA se conseguiram cortar alguns dos seus tentáculos, mas a estrutura tal como a dos polvos se recompõe a cada época, com novos métodos e manhas, e novos protagonistas que surgem como cogumelos de cada vez que a umidade política atinge o solo.
Mas a luta não termina com uma simples vitoria numa batalha como, por exemplo, esta da FUNASA, também aqui no Brasil o combate ao polvo cuja cabeça todos sabemos muito bem que está instalada nas poltronas, gabinetes e corredores de Brasília com ramificações em poltronas em cada Estado da União, não pode ser uma luta em vão, e muito menos uma batalha a abandonar, pois a guerra não tem fim, e o importante é que a chapa não se deixe esfriar...
Se os mantivermos bem quentes, com a chapa esquentada bem próxima; o seu temor reverencia vai obrigar, no mínimo, há um pouco mais de vergonha e respeito.
Exige-se uma nova geração política, pois felizmente que a nova geração de Magistrados começa a fazer sentir os seus efeitos, na aplicação da lei fazendo vingar a máxima da ordem e progresso.

Um comentário:

  1. Nossa! é realmemte alarmante o retrato do nosso Brasil atual...E os mandantes continuam impunes...

    Maria josé Evangelista (fenixfree2@yahoo.com.br)

    ResponderExcluir