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quinta-feira, 28 de abril de 2011

É PARA RIR: De aparições de fantasmas à cagada de índio; confira fatos pitorescos na Assembleia

Nos últimos 30 anos, a Assembleia Legislativa da Paraíba foi palco de inúmeros acontecimentos pitorescos testemunhados por funcionários e deputados. Os fatos vão de supostas aparições de fantasmas a um inesperado ataque de dor de barriga que resultou num amontoado de fezes- deixado por um índio, no plenário da Casa.
Também ficou na memória dos funcionários o dia em que dois deputados foram às vias de fato- com direito a tiro de revólver e mordida no nariz- em plena sessão. E os gritos de “ai, ai, ai...” que partiam de dentro do sanitário dos parlamentares, oportunidade em que um deputado, que também era dentista, ajudava um fotógrafo a se livrar dos dentes podres.
A Assembleia também foi palco da convivência “pacífica” e tensa entre deputados inimigos de morte, como os coronéis Luiz de Barros e José Lira; Levi Olímpio e Chico Pereira (pai dos ex-deputados Aércio e Adauto Pereira), todos já falecidos.
Os testemunhos desses fatos pitorescos e até violentos são de funcionários que trabalham até hoje na assessoria do Plenário, como Jerônimo Ribeiro (atual diretor do Departamento do Plenário), Magaly Maia, Paulo Rogério (conhecido como Paulinho) e Pedro Ronaldo Gadelha Abrantes, filho do ex-deputado Romeu Abrantes.
Num determinado mês de abril, índios potiguara, vindos de Baía da Traição, ocuparam a o plenário da Assembleia para uma sessão especial em homenagem do Dia do Índio (21 de abril). A sessão debateria os problemas existentes nas aldeias de Rio Tinto e Baía da Traição. De repente, um índio sentiu uma dor de barriga e resolveu fazer o serviço lá mesmo, no plenário.
Então, conforme lembram Jerônimo e Ronaldo, os outros índios, solidários, improvisaram a dança do Toré. Fizeram um círculo para esconder o potiguara com dor de barriga. E iniciaram a dança. Passaram quase 20 minutos dançando, tempo suficiente para o serviço ser concluído.
Em seguida, saíram em uma fila e deixaram para trás o amontoado de fezes, cujo odor incensou o plenário e acabou a sessão. O carpete teve que ser removido pelo pessoal da limpeza.
“Paulinho viu a movimentação dos índios e pensou que, realmente, eles estavam apresentando a dança do Toré. Quando desfizeram o círculo, nos deparamos com um imenso tolete”, disse Ronaldo Abrantes.
Chico Pereira dormia no próprio gabinete
Ronaldo Abrantes contou, também, que Gilson, funcionário da segurança, estava de plantão noturno, quando ouviu alguém bater numa porta de vidro do plenário. “De longe, ele viu uma pessoa e se aproximou para abrir a porta. Quando chegou perto, a pessoa tinha desaparecido”, disse Ronaldo, acrescentando que Gilson ficou com medo e atribuiu o fato a um suposto fantasma.
E a suspeita recaiu sobre o deputado Chico Pereira. O deputado tinha uma bengala e sempre dormia no seu gabinete, além de cochilar no plenário, durante as sessões. Quando tinha insônia, de madrugada, vagava pelo corredor com sua bengala na mão. “Depois que ele morreu, Gilson sempre ouvia o barulho (toc, toc, toc...) da bengala de Chico Pereira no corredor. Por isso, acreditou que a pessoa que bateu à porta de vidro do plenário, teria sido o ex-deputado.
O índio
O que mais marcou os funcionários do plenário da Assembleia, nas últimas três décadas, foi a dança do Toré que deixou para trás um amontoado de cocô de um índio que teve dor de barriga momentos antes do início de uma sessão em homenagem ao Dia do Índio. Os funcionários não lembram a data exata, mas afirmam que o fato ocorreu na década de 80. O carpete teve que ser retirado pelo pessoal da limpeza e a sessão foi inviabilizada.
O fantasma
Os funcionários da Assembleia relatam pelo menos três episódios atribuídos a supostos fantasmas, principalmente depois que Chico Pereira morreu. O toc, toc, toc da bengala que ele usava teria sido ouvido por servidores da manutenção e da segurança. Num dos episódios, Chico Pereira ainda estava vivo. O vigilante não o percebeu no escuro e viu apenas o cigarro aceso. Quase morre do coração jurando ter visto um espírito fumante. Tudo foi esclarecido depois.
O dentista
Djalma Gois foi fotografo do Jornal O Norte durante muitos anos. Cobria as sessões na Assembleia Legislativa. Tinha muitos dentes careados, que necessitavam ser extraídos. Mas não tinha coragem, até que o deputado Everaldo Agra o encoragou a tirar os dentes podres. O episódio chamou a atenção dos demais deputados, após os gritos de dor que ecoavam do sanitário, onde Agra arrancou os dentes do fotógrafo sem anestesia.
Os inimigos
Os deputados coronéis Luiz de Barros e José Lira- ambos representantes do município de Teixeira na Assembleia Legislativa da Paraíba- eram inimigos de morte. Os dois andavam armados, mas nunca foram às vias de fato. Só frequentavam o mesmo teto quando estavam no plenário. Se odiavam, mas respeitavam. Outros inimigos ferrenhos eram os deputados Levi Olímpio e Chico Pereira. E Levi Olímpio e Aércio Pereira, filho de Chico Pereira.
Pedido de alicate irritou Estrela
Na época em que João Estrela (ex-prefeito de Sousa) era deputado, Ronaldo Abrantes, filho do ex-deputado Romeu Abrantes (também da cidade de Sousa), era seu chefe de gabinete.
“Certo dia, o deputado João Estrela, que sempre foi um homem muito gentil e educado, estava com o cão no couro, como se diz no interior, e uma mulher chegou para irritá-lo ainda mais.
“A mulher entrou no gabinete e ficou olhando para ele, sem nada dizer. Mesmo irritado, João foi educado e disse: pois não, senhora, o que deseja?”, lembrou Ronaldo Abrantes. A mulher, segundo ele, calada estava, calada ficou. E o deputado disse: “Fale mulher”. Ela abriu a boca e foi direto ao assunto: “Eu quero um alicate de unha”. João Estrela: “Desculpe senhora, mas não damos esse tipo de coisa”.
Ela retrucou: “O que vocês fazem, além de não darem esse tipo de coisa?”. João Estrela, que já estava irritado, pegou a mulher pelo braço e a colocou para fora do gabinete.
Outros fatos
Contam os funcionários da Assembleia que muitos outros fatos curiosos marcaram e continuam marcando os bastidores da Assembleia Legislativa, tudo registrado nos anais da Casa. Tais fatos vão de manobras para a aprovação de projetos de interesse do Governo de forma açodada, como ocorreu um dia antes da cassação do governador Cássio Cunha Lima pelo Tribunal Superior Eleitoral, em fevereiro de 2009.
Sabendo que o governador seria cassado, seus aliados realizaram 17 sessões extraordinárias em apenas uma manhã e aprovaram tudo o que quiseram, da forma mais autoritária possível. Tudo acompanhado pela imprensa e por telespectadores da TV Assembleia.
A negativa da Assembleia para processar o ex-governador Ronaldo Cunha Lima foi um escárnio. Ronaldo cometeu uma tentativa de assassinato contra o ex-governador Tarcísio Burity, em 1993, e a Assembleia negou a permissão para ele ser processado.
A tribuna da Assembleia foi usada por deputados para ameaçarem colegas e até jornalistas que nada têm a ver com as disputas entre eles. Mas nem tudo é negativo. Foi a partir de uma denúncia feita na Assembleia Legislativa, pelo deputado Tião Gomes, que a Justiça Eleitoral (estadual e federal) cassou um governador (Cássio Cunha Lima) acusado de corrupção eleitoral.
Esconderijo de Zé Lacerda
Certo dia, o deputado Afrânio Bezerra se desentendeu com o também deputado Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, em plena sessão legislativa. Afrânio puxou um revolver e atirou em Marcus Odilon, que revidou com uma mordida no nariz do adversário.
O fato ocorreu há mais de 20 anos. Os problemas foram superados e hoje não existe inimizade entre os dois.
Mas o curioso envolveu o então deputado José Lacerda Neto. No tumulto, José Lacerda tentou se esconder debaixo de um birô, conforme lembram Jerônimo, Magaly, Paulinho e Ronaldo.
Quando José Lacerda tentou entrar debaixo do birô, o local já estava ocupado por um funcionário da Casa, se tremendo de medo.
Também tremendo de medo, o deputado José Lacerda teria dito: “Saia que esse lugar é meu. Procure outro lugar para se esconder”.
O funcionário teve que obedecer e cedeu o lugar ao deputado, que só deixou o local depois que o tumulto tinha acabado e os dois desafetos tinham saído do plenário.
Deputado tirou dentes de fotógrafo
De acordo com Jerônimo Ribeiro, o ex-deputado Everaldo Agra (pai do também ex-deputado Tota Agra, ambos falecidos) era dentista e sempre andava com suas ferramentas de trabalho. Certo dia, encontrou o fotógrafo Djalma Gois (que trabalhou vários anos no Jornal O Norte), que tinha a boca cheia de dentes podres que precisavam ser extraídos. Everaldo prometeu que um dia, se Gois quisesse, ele extrairia todos os seus dentes.
Dito e feito. Gois entrou no plenário para fotografar a sessão e encontrou Everaldo Agra. Os dois cochicharam e se dirigiram ao sanitário dos deputados, sem ninguém perceber. Momentos depois, a sessão foi interrompida por gritos de “ai, ai, ai” e “calma que to terminando; calma que ta terminando”.
Os deputados interromperam a sessão e se dirigiram ao banheiro para saber o que estava acontecendo. Ao adentrarem ao recinto, encontraram uma cena dantesca (pavorosa). O fotógrafo Gois estava sentado no bojo, com a boca aberta e toda ensangüentada e o deputado com um alicate na mão. Na pia, os dentes arrancados sem anestesia.
Deputado votou dormindo
Contam os funcionários que o deputado Chico Pereira, já idoso, passava o tempo todo cochilando no plenário, durante as sessões. Integrante da bancada do Governo, ele não dava conta do que era votado e aprovado. Mas numa determinada sessão, um projeto importante para o governo só seria aprovado se tivesse o voto de Chico Pereira, que daria a maioria necessária.
Quando presidente da sessão pediu que os deputados que concordassem com determinado projeto ficassem de pé, o parlamentar que estava ao lado de Chico Pereira se levantou e o puxou pelo braço. Mesmo assim, ele não acordou. O presidente disse que o projeto estava aprovado, mesmo sob o protesto da oposição. “Seu Chico votou dormindo”, lembrou Jerônimo.
Seu Chico, como era conhecido o deputado Chico Pereira, quando vinha de Pombal, não se hospedava em hotel e dormia no gabinete. Como costumava passar noites inteiras passeando nos corredores do primeiro andar, com insônia, ale acendia um cigarro após outro.
O setor de segurança tinha contratado um vigilante novato que não conhecia os hábitos do seu Chico. Certo dia, o vigilante chegou atrasado, passou pela chefia e foi direto dar uma geral nas instalações da Assembleia. As luzes estavam todas apagadas.
Ao chegar ao primeiro andar, o vigilante viu, de longe, um cigarro aceso a mais de um 1,70 metro de altura e se aproximando dele. Era o deputado Chico Pereira. O vigilante começou a tremer e disparou para o térreo, tremendo e assombrado. Disse ao chefe que tinha visto uma alma. “E o pior: além de ser uma alma, estava fumando”.
Paletó de toalha de mesa de Judivan
O ex-deputado Judivan Cabral tinha um paletó que mais parecia uma toalha de mesa, toda quadriculada. Os outros deputados brincavam com ele dizendo que o mesmo tinha mandado fazer o paletó com a toalha de mesa de sua casa.
Certo dia, invocado com as provocações dos colegas, Judivan Cabral chegou para um dos assessores da Assembleia e pediu o paletó emprestado. Recebeu o de Renê Costa, que era assessor do deputado José Fernandes de Lima. A troca de paletó ocorreu depois do episódio do tiro no plenário.
Na época, a Mesa Diretora baixou uma resolução proibindo deputados de entrarem armados no plenário. Quando Judivan começou a usar o paletó do assessor de José Fernandes, todo mundo percebeu o revólver de Judivan, um 38 de cano longo. Um repórter perguntou: “Mas deputado, o senhor está armado. E a resolução aprovada pela Mesa?”.
Ele respondeu: “Você acha que eu, desse tamanho (era baixinho), vou vacilar para levar uma mordida no nariz de um homenzarrão como Marcus Odilon? Antes dele arrancar meu nariz, eu meto bala”, teria dito em tom de brincadeira, para justificar a arma que carregava na cintura, mesmo depois da proibição da Mesa Diretora.
Na década de 80, dois coronéis da Polícia Militar eram deputados e representavam a mesma região: Serra do Teixeira. Eram Luiz de Barros e José Lira. Os dois eram inimigos de morte. Ambos andavam armados. “Era fio de 360 com fio de 360. Não podiam se tocar”, disse Jerônimo se referindo aos fios de alta tensão.
Um dia, segundo lembra Jerônimo, os dois se encontraram no elevador da Assembleia. O elevador parou no solo e ia para o subsolo. Zé Lira descia e Luiz de Barros esperava para entrar. Quando avistou o adversário, não entrou. “Eles não se falavam, nem se cumprimentavam, mas se respeitavam”, comentou Jerônimo.

Por Marconi

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Não existíamos e não sabíamos‏

Na revista piauí deste mês, há um artigo seminal de Pérsio Arida, sobre sua participação juvenil na guerrilha urbana. Lá está a análise rara de um prisioneiro torturado sobre a onda revolucionária que pegou nossa geração; lá estão os humanos tremores, a dúvida, o medo, todo o irresistível delírio ideológico e psicológico que insuflou uma geração para sofrimentos e mortes depois de 68. A luta armada foi a consequência da fé que tínhamos antes de 64, influenciados pela guerra fria, Cuba liberada, Vietnã.

A importância que restou de tudo, como Pérsio aponta, foi justamente a "via-crúcis" que tivemos de viver e que, por vias tortas, acabou nos levando à democracia em 85. Historicamente, foi bom.
O golpe militar de 64 aconteceu porque nós não existíamos. Éramos uma ilusão. A esquerda era uma ilusão no Brasil. (Já imagino as "cerdas bravas do javali" se eriçando em alguns cangotes). Mas, existia o quê? Existia uma revolução verbal. A ideologia "revolucionária" era um ensopadinho feito de JK, Marx, Getúlio e sonho. Existia uma ideologia que nos dava a sensação de que o "povo do Brasil marchava conosco", um "wishful thinking" de que éramos o "sal da terra". Havia a crendice de que nossos inimigos estavam todos "fora" de nós, fora do País e das estruturas políticas arcaicas que nos corroem há 400 anos. Existia um "bacalhau português" em nosso discurso, um forte ranço ibérico em nosso aparente "rationale" franco-alemão: o amor ao abstrato, a literatura salvacionista, a busca de um "Uno" totalizante. A população nem sabia que existíamos. Não havia base material, econômica ou armada, "condições objetivas" para qualquer revolução. Por trás de nossas utopias, o Brasil escravista e patriarcal dormia a sono solto, intocado. Éramos uma esquerda imaginária, delegando ao Estado a tarefa de fazer uma revolução contra o Estado. Até nas revoluções precisamos do Governo.
Por baixo dos sonhos juvenis, havia apenas o sindicalismo de pelegos e dependentes do presidente, que deu a grande festa de 13 de março (o comício da Central, com tochas da Petrobrás e clima soviético). Eu estava lá, olhando para Thereza Goulart, linda de vestido azul e coque anos 60 e vendo, depois, com calafrio na espinha, as velas acesas em protesto contra nós em todas as janelas da classe média "reacionária", do Flamengo até Ipanema. Essa era a verdadeira "sociedade civil" que acordava. Hoje, acho que o único cara que sacava a zorra toda era o próprio Jango, mais brasileiro, mais sábio, entre os gritos de Darcy Ribeiro falando do "Brasil, nossa Roma tropical!". Havia uma espécie de "substituição de importações dentro da alma": a crença de que éramos "especiais" e de que podíamos prescindir do mundo real, fazendo uma mutação por vontade mágica. Só analisávamos a realidade "objetiva", quando tínhamos de estar incluídos nela, subjetivamente. Em seu artigo, Pérsio se inclui.
Mas existia o que, então?
Existiam os outros. Os "outros" surgiram do nada. O óbvio de nossa cultura pipocou do "nada" em 64. Fantasmas seculares reviveram. Apareceu uma classe média apavorada e burra, que sempre esteve ali. Surgiu um Exército autoritário e submisso às exigências externas. Ficamos conhecendo a ignorância do povo (que idealizávamos), descobrimos que a resistência reacionária de minhas tias era igual à dos usineiros e banqueiros. Descobrimos a violência repressiva de uma falsa "cordialidade". Descobrimos o óbvio do mundo.
Eu estava dentro da UNE pegando fogo no 1.º de abril e quase morri queimado; mas, senti nesse dia que a vida real começava. A sensação não foi de derrota; foi a de acordar de um sonho para um pesadelo. Um pesadelo feito de milicos grossos, burrice popular e pragmatismo de gringos do "mercado". (Foi inesquecível o surgimento de Castelo Branco, feio como um ET de boné verde, na capa do O Cruzeiro).
Em 64, começara o calvário que nos levou a uma possível maturidade. Despertamos para a bruta mão do "money market", que precisava nos emprestar dinheiro, para que o Estado pós-getulista-verde-oliva avalizasse a instalação das multinacionais aqui. Ou vocês acham que iam nos emprestar US$ 100 bilhões para o Jango fazer a reforma agrária com o Francisco Julião? Aprisionaram-nos para contrairmos a dívida como, 20 anos depois, nos libertaram para pagá-la. Depois de 64 e 68, vimos que a esquerda tinha "princípios" e "fins", mas não tinha "meios".
Nossos paranoicos achavam (e muitos continuam achando) que somos vítimas de uma trama de Washington.
Claro que a CIA armou coisas com direitistas daqui, mas foram apenas os parteiros do desejo material da Produção.
O tempo da ditadura foi um show de materialismo histórico. Mas ibérico não gosta de ver essas coisas. E, logo, tapamos os olhos e nos consideramos as "vítimas", lutando pela "liberdade" formal. E não víamos que a barra-pesada estava entranhada em nossas instituições políticas, assim como não havia ideal democrático nenhum em nossos guerrilheiros. Nessa época, poderíamos ter descoberto que um país sem sociedade organizada morre na praia. E deveríamos ter descoberto que não adianta nada analisar os "erros" de nossa esquerda "revolucionária" como se fossem erros episódicos, veniais. A esquerda no Brasil tem de ser repensada "ab ovo", pois é impossível trancar a complexidade de nossa formação nacional num "pensamento único". Por isso, é desesperante ver gente ainda querendo restaurar ilusões perdidas.
O tempo não para e as forças produtivas do mundo continuarão agindo sobre nossa resistência colonial.
A mutação modernizadora, digital, do mundo nos obriga à democracia. Quando entenderemos que a verdadeira revolução brasileira tem de ser endógena, democrática e que só um choque de capitalismo e de empreendedores livres pode arrasar o "bunker" corrupto, a casamata secular do Estado patrimonialista? Pérsio não morreu e, 20 anos depois, ajudou a acabar com a inflação. Valeu... 

Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ramalho Leite – A marca dos cem dias


Talvez devêssemos começar pela origem dessa tradição de um governo mostrar nos primeiros cem dias, a sua própria marca. Ironicamente, a remissão aos cem dias nasceu da crônica de uma derrota. Napoleão Bonaparte foge da Ilha de Elba e retoma o poder na França levando Luiz XVIII à fuga e ao abandono do Trono. Com a adesão das forças que foram ao seu encontro para combatê-lo, Napoleão se mantém à frente do País por pouco mais de cem dias, até ser derrotado em Waterloo.É o fim do Império Napoleônico.
Os americanos e sempre eles, adotaram a idéia de avaliar os governos nos primeiros cem dias. Frankin Delano Roosevel iniciou a comemoração jactando-se do extraordinário feito de aprovar quinze projetos de envergadura em meio à Grande Depressão que afetou a economia dos EE.UU e contaminou o mundo. A partir de então, a mídia não tem deixado em paz os novos governantes, exigindo um balanço de suas atividades nos primeiros cem dias de gestão.
Quando um Governo sucede a ele mesmo, a marca dos cem dias passa desapercebida. Uns poucos ajustes e uma correção de metas satisfaz a curiosidade midiática. Quando a sucessão ocorre entre companheiros de uma mesma família partidária, as alterações são feitas mas dificilmente são explicados os motivos que as originaram. Trata-se de uma continuidade pacífica que não afeta nem mesmo os índices de popularidade do sucessor, beneficiário de um acervo de realizações que alicerçaram sua própria ascensão.
Na Paraíba estamos diante de um quadro diferenciado. O antecessor extrapolou  todos os limites do bom senso na busca de uma vitória que não ocorreu. O tempo que teria para consertar seus próprios erros  foi negado pelo eleitorado. Coube  ao sucessor a tarefa de realinhar os atos de gestão e buscar o equilíbrio necessário para alicerçar um trabalho consciente na direção do futuro.
Nesse período, reina espécie de “quarentena”, quando a oposição garante uma trégua ao governo que se inicia. Até isso foi negado ao atual governo. As primeiras medidas alcançaram privilégios irrenunciáveis. Quem deveria se penitenciar, passou a cobrar. A ação negativa do passado virou responsabilidade do presente. Se passou a exigir do atual governante o cumprimento de promessas que não fez. As dificuldades foram enfrentadas e as medidas restritivas  impactadas  dificilmente o seriam depois dessa quadra simbólica.
Os cem dias servem sem dúvida para a fixação do perfil de um novo governo. O Governador Ricardo Coutinho já disse a que veio. Veio para mudar e essas mudanças foram anunciadas amplamente durante o período do debate eleitoral. Está cumprindo o que prometeu. A ninguém será dado o direito de dizer que foi enganado. Obstáculos foram feitos para serem vencidos e ele, obstinado como é, vencerá a todos. Ao completar os primeiros cem dias, o novo governo da Paraíba faz um balanço positivo de suas ações e anuncia metas que, sem dúvida, respondem à confiança dos paraibanos.

"Ramalho Leite"

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cordel que deixou Pedro Bial injuriado a cerca do BIG BROTHER BRASIL‏

Autor: Antonio Barreto,
Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.


Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.

 Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bial
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dá muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não dêem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…

FIM

Salvador, 16 de janeiro de 2010.

Marcos Antônio