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sábado, 7 de maio de 2011

Boato sobre estouro de barragem gera pânico na população e pára o Recife


A água? Ninguém sabe, ninguém viu. O fato é que o Recife parou nesta quinta-feira (5), depois de uma enxurrada de informações desencontradas que foram propagadas como há 36 anos, quando um boca-a-boca gerou um dos maiores e mais desastrosos boatos que a capital pernambucana já viveu: o estouro da barragem de Tapacurá. Àquela época, justifica-se, a cidade havia passado por enchentes traumáticas, que deixaram o temor latente nos moradores.
Fragilizada, a população estava suscetível a qualquer tipo de pressão e uma informação jogada aos ventos se propagou como uma onda, levando desespero, acidentes e até morte aos pernambucanos. Sem nuvens pesadas no céu, sem uma gota d’água no chão. Exatamente como hoje. Às 16h, a cidade do Recife, já castigada pelo excesso de carros nas ruas e pelas chuvas que a assolaram nos últimos dias, viveu um “novo Tapacurá”. Escolas, shoppings e repartições públicas fecharam as portas mais cedo, reforçando o temor na população.
O antigo zumzumzum ganhou uma proporção estrondosa, com o auxílio das redes sociais. Em pleno 2011, com a informação circulando com muito mais velocidade, o Twitter foi um dos principais protagonistas desta nova versão do boato. Serviu como fonte de informação para muita gente, que ficou presa por horas no trânsito, mas também para alardear um medo que não chegou por fontes oficiais. Cidadãos postavam em tempo real fotos de ruas alagadas, narravam a impossibilidade de circular e o desespero de tentar voltar para casa.
Como repercussão na vida offline, o que se viu foi muita gente correndo pelas ruas do Centro. Trânsito parado por horas, gente abandonando os carros e andando à pé, com medo de ter suas vidas devastadas pelas águas. Gente que sequer havia nascido quando ocorreu o primeiro boato de Tapacurá. Quem passou, não esquece os danos que uma informação errada pode causar. “Eu sou uma vítima”, contou a aposentada Laury Corte Real, 66 anos, que atribui a morte do marido dela às falsas informações que circularam em julho de 1975.
Laury lembra que estava em casa, com um bebê de 3 meses, quando o seu marido chegou desesperado, trazendo mantimentos para, quem sabe, passar muitos dias isolados. “Ele ficou muito apreensivo com as crianças, saiu dirigindo por entre carros descontrolados, na contramão, para chegar em casa e ficar perto dos nossos filhos”. Contou, relembrando que a cena era de guerra nas ruas. “Hoje quando ouvi o novo boato, tudo veio à tona. Meu marido não morreu do susto, mas foi a partir dele que o aneurisma pode ter se desenvolvido”.
Já faz 36 anos, mas a pedagoga Eliane Correia, 62, também não esquece o dia em que surgiu o boato que a barragem de Tapacurá tinha estourado. “As pessoas começaram a gritar e correr pelas ruas. Eu fiquei tão desesperada que, mesmo recém operada de uma cesária, saí às pressas de casa com meu marido e filhos. Empurrei até o carro que tinha quebrado durante a confusão”, relembra. Assim como Eliane, seus familiares que moravam na Vila dos Remédios, em Afogados (foto acima), na Zona Oeste do Recife, tinham acabado de perder grande parte dos móveis e objetos na última grande cheia de 75. “Estava todo mundo traumatizado e acredito que também faltava informação na época”, relata a dona de casa Benedita da Silva, 72, que ainda mora no local. O boato que correu a cidade hoje, segundo ela, foi bem menor que o anterior, mas também causou medo. “Teve gente aqui da vila que passou mal, ficou tremendo e tudo”.
O filho de Benedita, o sociólogo Ricardo Raposo, 47, estava no Centro do Recife nesta tarde quando viu as pessoas desesperadas nas ruas. “Vi mulheres gritando, carros na contramão e até alguns abandonados. Não fazia o menor sentido porque olhei para o Rio Capibaribe e ele estava normal. Foi pânico mesmo”, acrescentou. Ricardo acredita que a população recifense desconhece a geografia da cidade e vive atualmente uma situação de abandono e, por esse motivo, acaba sendo guiada cegamente por boatos. “A internet também ajudou a espalhar a desinformação com o auxílio do anonimato. Recebi alguns e-mails com histórias mentirosas”, conta. Para ele, é necessário trabalhar o assunto nas escolas. “O Recife é a cidade das águas, mas pouco se sabe sobre nossos rios e barragens. A desinformação acaba alimentando lendas urbanas das cheias, como a que vivemos hoje”.
Por: Marconi

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